sexta-feira, janeiro 31, 2014

The Zero Theorem - trailer



O regresso de Terry Gilliam ao tema dos futuros distópicos, tão bem explorados em "Brazil", é sinal de alegria por aqui. Isto promete.

quarta-feira, janeiro 29, 2014

Doctor Who - Temporada 4



SPOILERS

I just want you to know, there are worlds out there, safe in the sky because of her. That there are people living in the light, and singing songs of Donna Noble. A thousand, million light years away. They will never forget her, while she can never remember. But for one moment, one shining moment, she was the most important woman in the whole wide universe.

The Doctor



"Doctor Who" consiste numa série de aventuras de um Time Lord, normalmente acompanhado por alguém humano, que viaja ao longo do espaço e do tempo, na sua nave espacial, cuja imagem é a de uma cabine telefónica (é um dispositivo de camuflagem, mas que ficou avariado na primeira aventura deste Doctor e quando digo a primeira é mesmo essa, em 1963).

Quando narrativamente nos envolvemos no tema das viagens no tempo, é preciso ter em conta como o vamos desenvolver. Por exemplo, o que acontece se o Doctor viajar ao passado e mudar um determinado acontecimento? Será que toda a continuidade do mundo mudaria também? Ou será que os acontecimentos em que o Doctor está envolvido acabam por ser os responsáveis pela continuidade já existente?

Uma vez que na série o tempo não é abordado como uma força linear, mas antes como uma - citando o Doctor -  "big ball of wibbly-wobbly... timey-wimey... stuff", a resposta está mais próxima da segunda hipótese levantada. Ter uma história com um universo em constante alteração poderia ser extremamente complicado uma vez que as repercussões seriam sempre gigantes. O que acabamos por ter na série é uma representação do tempo muito maleável em que existem determinados pontos fixos - assegurando continuidade - e outros flexíveis - onde as aventuras do Doctor podem decorrer mais à vontade. Ao longo destas 4 temporadas isto foi sendo sempre explorado e explicado. Contudo, os pontos fixos podem ser alterados, as consequências é que são severas como vimos na primeira temporada quando Rose salvou o seu pai e o Universo respondeu de volta. Para tudo isto funcionar o Doctor tem de ser capaz de distinguir os pontos fixos e os flexíveis. Por alguma razão ele é um Time Lord.

Nesse sentido é curioso ver como a série utiliza determinadas aventuras para serem causadoras ou estarme envolvidas em determinados acontecimentos da História. Ou seja, a continuidade delas está ligada a criaturas que ainda nem nasceram, tal como a erupção do Vulcão de Pompeia ou o desaparecimento misterioso de Agatha Christie. No fundo esta abordagem é similar à do James Cameron em "Terminator" onde o pai de John Connor é um homem que nasce muito depois do seu filho.

Tendo tudo isto em conta, simpatizamos quando Donna Noble quer salvar o povo de Pompeia em "The Fires of Pompeii", mas compreendemos que é algo que o Doctor não deve fazer. As repercussões no mundo seriam severas e passar uma vida a assistir a acontecimentos destes sem poder fazer nada, já deve ser penitente o suficiente. Ainda assim, surpreendentemente, Noble convence o Doctor a salvar uma família, o que não me fez muito sentido se supostamente quem morreu no passado não pode voltar. A única explicação para não existirem consequências neste caso é que essa família sempre foi salva pelo Doctor, mas isso pode levantar a questão: porque é que ele não os salvou logo? Será que não conseguiu ver que eles eram um ponto móvel no tempo... ou arriscou? o que seria ainda mais estranho. Bem, isto tudo para dizer que quem mexe com viagens no tempo depara-se com situações complicadas deixando as narrativas muitas vezes com questões do género. É como no "Regresso ao Futuro", quando Marty viaja só 15 minutos para o futuro ele deixou de existir nesses 15 minutos, mas quando viaja 30 anos, o mesmo não ocorre uma vez que ele encontra a sua versão mais velha. Sim eu sei que "Doctor Who" é uma série completamente surreal, com momentos "Deux Ex-Machina", mas gosto muito de discutir viagens no tempo e há sempre a questão da coerência da mitologia criada.

Ainda em relação ao "The Fires of Pompei" é de salientar que é um episódio muito especial, uma vez que participam nele Peter Capaldi - que é agora o novo Doctor - e Karen Gillan que será uma Companion do Doctor no futuro (a actriz, não a personagem que interpreta aqui).

Mas estou a adiantar-me. Ainda queria referir que antes desta aventuras tivemos o clássico especial de Natal que no final da temporada anterior prometia decorrer no Titanic. De facto tal é verdade, mas não no Titanic que esperaríamos. O Doctor vai parar a uma nave espacial que se trata de um réplica do antigo navio. Uma nave alienígena e turística que como sempre é mais do que aparenta à primeira vista. A assistir o Doctor temos a cantora pop Kyle Minogue.

Começando a 4º temporada propriamente dita com "Partners in Crime" temos logo uma grande grande surpresa. O regresso de Donna Noble. Tinha dito em relação à temporada anterior que esta personagem tinha imenso carisma para ser uma Companion. Uma pena que apenas tivesse durado um episódio. Não sei se isto estava já planeado, ou se o feedback positivo fez Russel T. Davies ir buscá-la. A verdade é que não interessa. O importante é que a 4º temporada é com Donna Noble e isso é brilhante. Não esperava que o enredo fosse com criaturas fofinhas que são gordura do nosso corpo, mas a dada altura uma pessoa já espera de tudo desta série. O que é também a sua grande força, tudo é possível em "Doctor Who".

Nesta temporada conhecemos também as origens dos Ood, um povo que foi torturado para se tornarem escravos do Homem. É uma imagem aterradora do nosso futuro, uma que nunca devia existir. Mais triste que ver um profundo erro cometido pela humanidade, é ver esse mesmo erro ser repetido. Os Ood são salvos pela dupla maravilha e após mostrarem a sua gratidão dão um aviso ao Doctor. A sua canção está para terminar... Eu já sabia, mas custa sempre ser lembrado.

Em seguida Doctor e Donna Noble regressam à Terra a pedido de Martha Jones. Gostei que esta Companion tivesse um papel de destaque nesta temporada, uma vez que entrou na temporada de "luto", nunca tendo a atenção que queria por parte do Doctor (bem também tem culpa que ele só queria um mate). Para compensação Jones terá sempre entrado em alguns dos melhores episódios de "Doctor Who". Mas voltando a este enredo. Jones abandonou as viagens com o Doctor, mas não as aventuras fora de órbita. Hoje é um soldado da UNIT (United Nations Intelligence Taskforce) e faz parte da vanguarda das defesas terrestres contra ataques extraterrestres.

A partir daqui seguem-se uma série de episódios bem distintos e muito divertidos. "The Doctor's Daughter" teve muito mais graça do que pensava a início. Adorei a forma como os dois povos em questão batalhavam há tantas gerações quando afinal tinha passado tão pouco tempo. E claro que a filha do Doctor - que tecnicamente não é mesmo filha - não podia morrer. Espero que a voltemos a encontrar, afinal de contas, Time Lords não é uma espécie que anda por aí em grandes números ultimamente.

Depois tivemos o - já mencionado - encontro com Agatha Christie, que poderia ter saído de um dos seus livros - excepto a parte alienígena. Aqui acho que o vilão devia ter sido trabalho noutra direcção, preferia-o, mas a história em si não é má e capta a atmosfera dos mistérios da autora que agora se fundem com a mitologia deste universo.

"Silence in the Library" e "Forest of the Dead" voltam a mostrar como o tempo é uma força tramada. Alguém pediu a ajuda do Doctor num planeta que já foi inteiramente uma biblioteca, mas que devido a problemas misteriosos ficou desabitado. A história é muito boa e temos conhecimento pela primeira vez de River Song, uma mulher que parece conhecer uma versão futurista do Doctor. Não ficamos a saber muito sobre qual a sua relação com ele, mas o facto de saber o seu nome verdadeiro prova que será muito intima. Marido e mulher? O futuro o confirmará.

Antes de entrarmos na recta final ainda tivemos o claustrofóbico "Midnight". Adoro este tipo de história em que um grupo de pessoas fica isolada numa situação de tensão. A forma como isso afecta cada indivíduo  dá sempre azo a questões pertinentes. "Midnight" não desiludiu nada, antes pelo contrário. Será que Russel T. Davies tem o seu melhor episódio em "Doctor Who" nesta abordagem mais contida? Ele que gosta tanto de excessos.

E pronto, a preparar o terreno temos "Turn Left", que nos mostra uma visão do mundo sem o Doctor, caso a Donna Noble nunca o tivesse conhecido. Felizmente tivemos o tão esperado regresso de Rose Tyler, que me deixou em completo êxtase quando proferiu as palavras "Bad Wolf". Este regresso era esperado, pois já veio a ser induzido ao longo da temporada.

Quanto ao final foi completamente épico e dedicado aos fãs. Todos os Companions da nova série regressaram, mais a Sara Jane Smith e o seu K9 (que por pouco achei que não ia aparecer). Também no lado dos vilões tivemos o regresso do Dalek Caan (dos Cult of Skaro) e Davros - o criador dos Dalek - que aparentemente foi salvo por Caan. O Doctor ficou muito impressionado com esta acção que nunca nos chega a ser explicada, contudo, também ele no passado tentou manter o pai de Rose vivo, o que é indicativo que existe essa possibilidade. Neste caso não temos respostas, mas sabemos que o que quer que Caan tenha feito o deixou louco e clarividente. Claro que mais para o fim percebemos que Caan é muito mais lúcido do que aparentava.

Sei que David Tennant está quase a abandonar o papel, mas assustei-me quando se regenerou, pois contava que tal só ocorresse nos episódios especiais. Afinal o susto foi curto, graças à mão que mantém na Tardis ele conseguiu manter o mesmo corpo. Claro que o momento mais bizarro, foi quando a partir da mão cresceu um outro Doctor. Um meio time lord e meio humano que acabou por ser usado para dar um final feliz a Rose. Foi um misto de tristeza e felicidade esse momento, depois de todas as aventuras Rose ficou finalmente com o Doctor (que lhe disse as palavras que ela mais queria ouvir). Mas o Time Lord, esse continua, como sempre, ao longo do espaço e do tempo. Algo que tem vindo a ser cada vez mais focado é a importância de um Companion na vida do Doctor. Como ele referiu a Rose, ela fê-lo uma pessoa melhor e com esta decisão ele conseguiu ajudá-la tanto a ela como à sua versão humano. Ahh "this man, this remarkable man".

Mas triste a sério foi o final de Donna Noble. De todas as Companions ela era a que acreditava menos em si. Estas aventuras mudaram-na e agora ela vê-se forçada a esquecer tudo de novo. Um humano não tem capacidade para ter a informação de um time lord no seu cérebro e por isso o Doctor obriga-a a esquecer tudo. Mas nós nunca te esqueceremos Noble, foste uma Companion brilhante e tão tão divertida. Como não adorar esta mulher que não largou o Captain Jack desde que o viu? E a interacção entre ela e o Doctor meio humano? Hilariante.
Dois Doctors; Donna Noble; Rose Tyler e familia; Martha Jones; Sara Jane Smith e parceiros; Captain Jack Harkness e Torchwood; e Harriet Jones, former Prime-Minister! Todos se juntaram para nesta conclusão enfrentarem juntos essa horde do mal que são os Daleks, naquele que prometia ser o ataque mais devastador de todos até agora.  A ideia de raptarem planetas foi tão épica e tão boa. E as pistas? Essas estiveram sempre lá. Que temporada maravilhosamente bem planeada. Muitos Parabéns Russel T. Davies. A saída de Tennant corresponderá também à saída de Davies e é preciso agradecer-lhes por tudo o que fizeram. Um muito obrigado.

Venham lá esses especiais agora. Já estou com saudades do Tennant e ele ainda nem saiu.

ALLONS-Y!!!!!!!!!!!!!!!!

segunda-feira, janeiro 27, 2014

The Secret Life of Walter Mitty (2013)


Filho de Jerry Stiller - o hilariante pai de George Constanza em "Seinfeld" - Ben Stiller foi um homem que chegou até nós também pela comédia. Nem sempre pela melhor comédia, aliás muitos dos seus filmes nunca me suscitaram grande curiosidade. Nem tenho ideia de Stiller ser um nome popular entre os amantes de cinema. Contudo, cada vez mais me parece que isso está a mudar, que Stiller está a construir uma carreira cinematográfica muito interessante e promissora.

Outro dia estava a pensar no momento em que Stiller me conquistou e me fez estar mais atento ao seu percurso. Pensava que tinha sido nas participações que fez em algumas séries, tais como "Arrested Development" e "Extras", onde esteve soberbo. Mas não. Foi antes, foi quando Wes Anderson nos trouxe essa peça exímia que é"The Royal Tenenbaums".

Depois do divertido "Tropical Thunder" Stiller volta à realização com este "The Secret Life of Walter Mitty", o seu filme mais intimista até à data. A comédia em que se especializou continua aqui presente, mas este é um filme completamente distinto daqueles que realizou até à data.

Um dos aspectos que mais gostei no filme foi o facto de Walter Mitty já ser uma personagem fascinante, muito antes de partir à aventura pelo mundo fora em busca de uma fotografia. Esta não deixa de ser uma história de coragem e verdadeiramente inspiradora, mas não foi preciso esse "salto" para a aventura para Mitty se definir enquanto ser humano. Ele é especial, a sua vida tocou a de outros e o final é especialmente bonito por causa disso.

Todo o filme é acompanhado por uma banda sonora lindíssima que capta esse sentimento de inspiração que o filme procura ter. Temos canções de José Gonzalez, Junip, Of Monster and Men e claro Mr. David Bowie - a sua Space Oddity está interligada a todo o filme. A fotografia também deixa a sua presença bem vincada, mas aqui o trabalho é facilitado pela escolha dos locais de filmagem, arrebatadores.

O tom de comédia apanhou-me algo de surpresa, não esperava nada a cena do "Benjamin Button" que é tão engraçada. Gostei, provavelmente é o filme mais bem conseguido de Stiller até à data e também, enquanto actor, a sua personagem mais complexa e bem desenvolvida.

Nota: Não fazia ideia que já existia um filme de 1947 com o mesmo título. São amb os inspirados na curta história de James Thurber, mas pela sinopse parecem filmes diferentes, apesar de se tocarem na personagem.

sexta-feira, janeiro 24, 2014

Broadchurch - 1º Temporada


Não a vi a tempo de a incluir na lista de favoritos, mas "Broadchurch" foi claramente uma das melhores séries de 2013. Excelentes interpretações e um desenvolvimento da narrativa muito bem explorado e conseguido.

Escrevi sobre a primeira temporada aqui no TVDependente. E livre de spoilers.

quarta-feira, janeiro 22, 2014

Escrever


Creio que é isso que eu censuro aos livros em geral: o facto de não serem livres. Vêmo-lo através da escrita: são fabricados, são organizados, regulamentados, poderíamos dizer, conformes. Uma função de revisão que o escritor tem muitas vezes em relação a si próprio. O escritor, então, torna-se no seu próprio chui. Quero dizer com isso a procura da boa forma, quer dizer, da forma mais corrente, mais clara e mais inofensiva. Há ainda gerações de mortos que fazem livros pudibundos. Mesmo os jovens: livros encantadores, sem qualquer prolongamento, sem noite. Sem silêncio. Por outras palavras: sem verdadeiro autor. Livros diurnos, de passatempo, de viagem. Mas não livros que se incrustem no pensamento e que digam o luto negro de todas as vidas, o lugar-comum de todos os pensamentos.

Em "Escrever" temos reunidos cinco ensaios de Marguerite Duras: Escrever; A morte do jovem aviador inglês; Roma; O número puro e A exposição da pintura.

A início questionei-me se este livro teria sido a escolha mais certeira para começar a ler Duras, uma vez que a autora faz menção a outros livros seus que desconheço. Mas nada disto me tirou o grande prazer que foi esta leitura. Gosto da forma como ela escreve sobre a escrita, sobre a solidão e, pois claro, sobre a vida. Gosto da sua paixão, da sua independência e força. Sem dúvida uma autora a continuar a conhecer, uma autora que escreve, sem receio, livros livres.

Pedro Cleto e o melhor da BD Nacional amanhã na Fnac


Amanhã pelas 18 horas na fnac de Sta. Catarina, o jornalista e autor do blog "Leituras do Pedro" irá debruçar-se sobre o que melhor se publicou de BD nacional em 2013.

O Pedro Cleto já se tinha pronunciado aqui sobre os seus livros predilectos aqui, contudo, como já passou mais tempo desde essa data, o jornalista poderá ter acrescentado mais algum. Gostava de assistir a esta reflexão, mas infelizmente existem 300 km que me vão dissuadir. Contudo, gosto da ideia e da possibilidade em falar e discutir BD.

A título pessoal gostaria de ver também destacado "O Desenhador Defunto", que saiu muito perto do final do ano e não merece nada passar despercebida, pois trata-se talvez da obra mais audaciosa que saiu no ano passado.

terça-feira, janeiro 21, 2014

The Sandman: Overture



O texto seguinte contém SPOILERS GIGANTES sobre "The Sandman".

Como começar um qualquer texto sobre "The Sandman"? Talvez faça sentido alguma contextualização pessoal. Estou a falar de uma das obras pelas quais nutro um maior carinho, considerando-a sem hesitar como uma obra-prima e até à data o expoente máximo de Neil Gaiman enquanto autor, que inspirando-se numa série de mitologias e religiões, criou um universo esplendoroso em que todas elas existem e co-habitam. Segui as aventuras do Senhor dos Sonhos durante 10 volumes e foi das personagens que mais me custou abandonar quando a viagem chegou ao fim. Tal como o corvo Matthew, também eu sofri com a morte de Morpheus e também parte de mim se queria recusar a seguir Daniel - o seu substituto. Identifiquei-me sempre com as acções deste "pássaro", incluindo o momento em que ambos aceitámos que Daniel merecia a nossa atenção, carinho e, mais ainda, a nossa ajuda. Juntos acompanhámo-lo na sua nova jornada, aceitando-o como o Senhor dos Sonhos e, confesso, que fiquei muito sensibilizado quando o próprio recusou que o chamassem de Morpheus.

Posteriormente outras histórias de Sandman foram sendo contadas e editadas. Claro que as tenho a todas e posso confirmar que soube sempre muito bem reencontrar este velho amigo. Nunca senti que tais edições fossem exploradoras da carteira. Tinham objectivos, histórias para contar e faziam sentido. Algo que me deu sempre confiança nestas novas histórias é que eram sempre da autoria do pai delas, de Gaiman. Por tudo isso, quando "The Sandman: Overture" foi anunciado, um sorriso voltou a esboçar-se no meu rosto. Desta vez, Gaiman aventura-se numa prequela, explicando-nos a razão porque Morpheus é capturado no início de "Preludes and Nocturnes". Nunca questionei essa razão, nunca lhe senti falta, mas é Gaiman, é Sandman, contem comigo.


Não falei logo do livro mal saiu porque reservei a sua compra e estive à espera que chegasse, resisti ao digital para ler o comic em todo o seu esplendor e glória. Como reservei a edição especial ainda tive de estar mais um mês à espera. História engraçada esta a da edição especial. O que li na net sobre ela não estava totalmente correcto, pois afinal em lado nenhum disseram que era a preto e branco. Nada contra, sou acérrimo fã do preto e branco e por isso apaixonei-me imediatamente pelo livro. Porém, as cores de Dave Stewart são qualquer coisa de excepcional e também não podia ficar sem elas. Resultado: trouxe as duas versões. Parece que Sandman anda comigo sempre aos pares, pois além dos volumes tradicionais também comprei as edições Absolute (extras + nova coloração + histórias que não foram publicadas nos outros volumes) - não resisti.

Em relação ao primeiro número (o segundo sai algures este mês acho), posso dizer que fiquei muito bem impressionado. As primeiras páginas agarram-nos logo com uma grande força de tão maravilhosas e - pois claro - surreais que são. O regresso de Morpheus e de tantos outras personagens de Dreaming é um momento realmente especial para quem é fã da série. Não há dúvidas nenhumas que são eles, o tenebroso Corinthian, o sapiente Lucien, o divertido Mervyn Pumpkinhead e claro, o misterioso Senhor dos Sonhos. É preciso não esquecer que esta história decorre antes do aprisionamento de Morpheus. É importante ter isso em memória, porque esses anos de prisão viriam a mudá-lo de uma forma que nem o próprio se apercebeu no início e por isso neste "Overture" contem com uma versão mais arrogante e distante de Sandman.

No final, Gaiman puxa-me o tapete dos pés. Uma pessoa pensa que domina o universo de Sandman e depois fazem-me isto? Sempre achei, não sei porquê, que os Endless tomavam conta dos seus domínios ao longo do multiverso. Pois parece que não, que existe um específico de cada universo e é isso que descobrimos quando todos os "Dreams" são convocados - suspeito que um deles morreu. Teremos uma história a começar da mesma forma que a original terminou? O tempo o dirá.


Desta vez Gaiman faz-se acompanhar de J.H. Williams III, cujo trabalho é a todos os níveis um portento. A sua participação em "The Sandman" está aprovada com louvor e distinção. Se há dúvidas espreitem a edição a preto e branco, essas duas cores não enganam. A capa aqui exposta é da edição especial e da autoria de J.H. Williams III. Mas como a tradição manda existe uma - variante - de Dave Mackean, nome que foi responsável por todas as capas da antiga série.

Um início desta envergadura, promete uma grande série. Cá continuarei a dar notícias sobre a mesma, porque há histórias que são mais especiais que outras e esta, para mim, é mesmo muito especial.

quarta-feira, janeiro 15, 2014

Halloween (1978)


Finalmente vi esse clássico de terror que é o "Halloween" do Carpenter. Das personagens mais conhecidas do cinema de terror, como Freddy Krueger, Jason ou o Leatherface, fazia-me muita comichão ainda conhecer o Michael Myers, até porque de todos estes realizadores o Carpenter é o meu predilecto.

Ao longo dos anos a admiração e respeito por John Carpenter só tem crescedido. Este homem dos sete ofícios no cinema, é realmente um "faz tudo" dotando os seus filmes de uma atmosfera ímpar. E é nisto que "Halloween" deslumbra, na forma como Carpenter sabe filmar o suspense, o temor, sempre acompanhado de um tenebroso tema sonoro, composto pelo próprio.

Myers é-nos apresentado logo no início do filme, quando em criança assassina a sangue-frio a sua própria irmã. Nunca entramos dentro da personagem, nem sabemos o que lhe passa pela cabeça (era tirar-lhe força), mas o que nos é sugerido, através do seu médico, é que Myers é, pura e simplesmente, o mal. Porque nem sempre há passados trágicos, ou momentos na infância que definam as pessoas. Nesse sentido Myers espelha esse lado negro da vida no seu estado mais pura, essa força que é o mal. Talvez por isso a personagem pareça ser incapaz de ser morta, porque esta já se tornou mais do que um Homem, tornou-se uma força da natureza.

E como cinema espelha a vida, seja em que género for, Myers nasce de uma experiência que o realizador teve ao conhecer um paciente que sofria de uma qualquer doença mental. Deixo aqui a citação do realizador sobre esse encontro e que pode ser vista nos extras do DVD da edição comemorativa dos 25 anos:

I met this six year old child with this blank, pale, emotionless face, and the blackest eyes; the devil's eyes […] I realized what was living behind that boy's eyes was purely and simply…evil.

terça-feira, janeiro 14, 2014

Black Hole


A encerrar o ano na parte da BD deixei as honras a "Black Hole" de Charles Burns, a mítica novela gráfica de horror sobre a adolescência.

A história decorre numa Seatlle em meados dos anos 70 e foca-se num grupo particular de adolescentes. "Black Hole" é assim um retrato sobre a fase da adolescência, com todos os excessos, descobertas e sentimentos de alienação que lhe são característicos. O que torna esta história única e especial, é a forma como Burns introduziu uma doença no seio destes adolescentes. Aquilo que vulgarmente é chamado por "The Bug" trata-se de um qualquer vírus transmitido por fluídos (normalmente por via sexual) que pode deformar o corpo dos infectados, das mais variadas formas. Por um lado existem infectados que apenas têm marcas nas costas ou no pescoço (se bem que neste caso é uma boca que fala), escondendo-as com roupa, mas por outro existem aqueles cujas mutações são em toda a face tornando-os ainda mais marginalizados.

Burns utiliza estas mutações, fruto desta doença misteriosa, para explorar o início da sexualidade na adolescência e a sua transição para a fase adulta. Em adição, se não se tratou de uma alegoria, pelo menos parece-me existir alguma ligação com o vírus bem real do HIV. A forma como a doença se transmite, a altura que a história decorre, entre outros pormenores, fazem o nome da Sida ecoar nas nossas mentes em várias páginas.

Graficamente, Burns explorar as marcas desta doença de uma forma surrealista e carregada de fortes símbolos, muitos deles sexuais, que dotam a este trabalho uma força extra. Quando referi que é a forma como o autor aborda esta história que a torna tão distinta, essa afirmaçãoprende-se muito com a o trabalho visual do autor, cuja utilização do preto e branco édas melhores coisas que já vi.

Infelizmente descobri que as edições completas desta história (da Pantheon Books), cortaram várias páginas das originais (que ao todo foram 12 números editados inicialmente pela Kitchen Sink Press e terminados pela Fantagraphics). Diz quem leu que há muito material essencial ao qual não temos acesso nestas. Agora acho que não vou descansar enquanto não tiver acesso a todo o material, para confirmar por mim. Contudo, é preciso salientar que adorei a sua leitura e não senti que faltaram coisas a contar.

"Black Hole" tem também sido alvo de interesse por parte da indústria cinematógrafica. Desde 2005 que se ouve falar numa possível adaptação, mas que por alguma razão não se tem concretizado. Uma vez que este livro espirra por todos os lados as palavras "Terror Venéreo", o primeiro nome que me vem à cabeça para realizar isto só podia ser o de David Cronenberg.

segunda-feira, janeiro 13, 2014

Short Movies


A fechar o ano de 2013 no campo da literatura li este "Short Movies" de Gonçalo M. Tavares. O livro trata-se de um conjunto de planos cinematográficos imaginados pelo autor. Determinadas cenas que ficam no ar em aberto, susciptando a projecção de um filme na nossa mente. Ao lermos cada cena, o autor coloca-nos pela perspectiva de uma câmara que segue aquelas determinadas personagens e objectos.

É uma ideia curiosa e muito diferente do habitual, um livro que acho mais adequado para os fãs de Tavares e não tanto para aqueles que querem começar a ler o autor. Como referi, estes segmentos não são contos e por isso não têm uma estrutura com início, meio e fim.

A escrita de Tavares continua a mostrar-se de grande qualidade, sempre munida de questões filosóficas, de questões humanas. A forma como este autor descrever e explora as suas personagens num determinado quotidiano (por vezes muito surreal), continua a ser um dos aspectos que mais me cativa a lê-lo.

quinta-feira, janeiro 02, 2014

Balanço televisivo de 2013


Como é costume no final do ano (ou princípío do novo) os balanços anuais começam a invadir os blogs e afins.

No TVDependente há uma longa tradição de salientar os grandes destaques televisivos, por isso aqui fica a minha lista para os melhores 10 episódios do ano. Espreitem também os dos outros colaboradores, somos muitos e com gostos bem diversos.

Durante este ano fui salientado algumas séries no blog, mas acabei por adiar posts que nunca mais vieram, como para "House of Cards", "Dexter" e claro "Breaking Bad". Não é à toa que escolhi esta imagem para ilustrar o post, "Breaking Bad" despediu-se e deixará muitas saudades, este foi o seu ano como bem explícito está nos tops da maioria dos colaboradores do "TVD". Com esta lista acabo assim por mencionar as tais séries que tinha intenção, excepto "Dexter", essa desiludiu, mas por toda a história e dedicação também merecia um post, quem sabe no futuro.Também não posso deixar de expressar o meu contentamento com o regresso de "Arrested Development", nunca imaginei ver novamente uma temporada para esta série cujo cancelamento havia ocorrido há 7 anos atrás. Ainda quero salientar que fosse esta lista feita hoje e já acrescentaria "Broadchurch" o novo policial inglês que tem dado tanto que falar.

Por fim, uma lista das melhores 10 séries do ano elaborada por todos nós. Dessa lista vejo apenas 6, mas não tenho dúvidas que as restantes 4 valham bem a pena.

Feliz 2014 a todos.